Socorro, virei uma... garota (?)

Atenção: aviso de alguns spoilers do filme “Socorro, virei uma garota!”

Calma. Isso é apenas uma crônica. E não. Não virei uma garota. Mas o Júlio (Victor Lamoglia) virou Júlia (Thati Lopes) no filme de mesmo título dessa crônica (mas sem o ponto de interrogação entre parênteses). Trata-se de uma comédia nacional que eu adorei, dei muita risada, mas que também tem seus momentos de emoção e uma mensagem tocante. Bom, pelo menos para mim...

Acontece que, no filme, o Júlio é aquele nerd que tem um amigo nerd e que ninguém está nem aí para ele (e obviamente isso inclui as garotas). Após mais um episódio em que Júlio passa vergonha na frente de todo mundo, ele faz um desejo para uma estrela cadente e pede para se tornar a pessoa mais descolada da escola. Então ele acorda numa realidade paralela em que ele, na verdade, é ela. Nessa nova realidade, tudo é o contrário da realidade canônica (sim, estou usando linguagem de histórias em quadrinhos de super-heróis). Ele é Júlia, a menina mais descolada do colégio, com mais de 3 milhões de inscritos em seu canal de maquiagem no YouTube e mais de 300 mil seguidores no Snapchat; seu pai é cardíaco, com colesterol e uma pança enorme; seu irmão é nerd e não sabe chegar nas garotas; e a garota que ele gosta na “vida real”, Melina (Manu Gavassi), é sua melhor amiga nessa realidade. Quer dizer... amiga da Júlia. E o filme se desenrola com o Júlio na pele de Júlia, lidando com coisas de garotas e fazendo a gente dar muitas risadas, como por exemplo, quando vai fazer depilação e quase morre de tanta dor, ou quando menstrua e fica com cólica e assim descobre as dores que as mulheres sentem. Além de tudo isso, Júlia conta com a ajuda da irmã do seu melhor amigo (nessa realidade ele continua sendo nerd e nem um pouco popular com as garotas) para conquistar Melina.

E no meio de tudo isso, ele descobre que nessa nova realidade a sua mãe está viva. Ela que morreu quando ele tinha sete anos. Em certo momento, ele pergunta para ela se ela já abriu mão de alguma coisa que ama para ter outra coisa que ama. A resposta? “Todos os dias. Isso é a vida. Mas o mais importante está faltando: você se amar”. Esse, para mim, é o momento mais emocionante do filme. Foi aí que o Júlio, mesmo sendo Júlia e sendo popular, e tendo tudo que sempre quis, percebeu o quanto era importante amar a si mesmo e se aceitar. E quando ele voltou à sua realidade canônica, começou a agir diferente, pois aquela experiência o havia mudado.

Eu me identifiquei com o Júlio. Tipo... pra caramba! Eu sei o que é não ser popular na escola e nem com as garotas, por isso fiquei refletindo após o filme e decidi escrever isso aqui. Eu sou de um jeito. E tenho lutado para me aceitar como sou. É um processo. Um processo que se arrasta há 27 anos e que ainda não chegou ao fim, mas que já está muito mais avançado do que estava há alguns anos. Críticas e zoações sempre viram das pessoas. Isso é natural para quem é diferente e não se encaixa nos “padrões da sociedade”, que aceita de braços abertos homens e mulheres bonitos, com seus corpos sarados e que saem para beber e socializar com os amigos ou flertar com seu interesse amoroso. Eu sou um cara caseiro, gosto de ler, de escrever, de cinema, de arte... Esse é quem eu sou, e estou aprendendo a ligar o... (você sabe). Então, para você que está lendo isso e se acha diferente e fora dos padrões também, digo uma coisa: siga seu caminho, siga seu coração, SEJA QUEM VOCÊ É. Desculpem, acabei dizendo três coisas. Por favor, relevem. Relevem, mas continuem seguindo em frente nessa jornada de autoconhecimento e aceitação, assim como eu venho fazendo. Assim como o Júlio fez. Não mude nada para satisfazer ninguém. Você vem sempre em primeiro lugar!

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