O escritor e o amor (texto de 2015)


“Sentar
E ver o mar quebrar.
Poder te abraçar
E antes de deitar
Imaginar como vai ser
Quando eu te encontrar
Velhinha no sofá,
Cabelos de algodão
E mil histórias pra cantar...”




Sabe, às vezes acho engraçado ser escritor. Quando comecei a escrever, há anos, eu escrevia nas madrugadas para aproveitar o seu silêncio ensurdecedor e porque, para mim, não há nada mais inspirador do que os barulhos noturnos de grilos, móveis estralando, um caminhão solitário passando na avenida e o próprio silêncio, a calma, a paz. É engraçado por que eu escrevia de madrugada, mas com o pensamento de que eu só estava fazendo aquilo e àquela hora porque eu não tinha mais nada para fazer. Sabe de nada, inocente! Hoje eu tenho o que fazer e continuo escrevendo de madrugada. Desde a época da escola, quando descobri dentro de mim esse dom — sim, porque isso é um dom e eu descobri isso ao longo dos anos —, escrevo de tudo, mas, se pegarmos todos os meus desabafos, contos, crônicas, poemas e poesias, veremos que o assunto que mais está presente neles é o amor. Sou um romântico. Talvez seja por isso que eu goste tanto de escrever sobre amor (por mais que, antigamente, minha vida amorosa fosse uma fossa; mas nada mais inspirador que uma fossa, não é?)

E aqui estou novamente para escrever para escrever sobre o amor aproveitando o “silêncio e seus barulhos” da madrugada, após colocar as crianças e a mamãe que está grávida de mais um baby para dormir. Os versos do início do texto são da música Cabelos de Algodão da Banda Fly, grupo popteen que gosto muito — apesar de eu não ser mais teen — por suas letras e ritmos relaxantes. Eu estava ouvindo essa música agora há pouco, quando veio a inspiração e eu não pude deixar passar.

A verdade é que essa música me faz lembrar da minha amada toda vez que a escuto, pois eu quero envelhecer com ela no sofá. Os dois velhinhos. Eu careca. Ela com seus cabelos de algodão. Nós dois contando histórias das coisas que passamos juntos durante a vida. Se isso será possível, eu não sei, só o destino irá dizer, mas é a minha vontade. Meu grande sonho daqui para frente.

Não tive muitos sonhos na vida, não fiz grandes planejamentos, mas todas as metas que estipulei foram alcançadas. Fiz faculdade, consegui o emprego que eu queria, casei, sou pai. Agora quero ficar para sempre ao lado das pessoas que amo: meus filhos e minha esposa e, ah, o Bob também (Bob é meu Labrador). Eles são minha fonte de inspiração, são a materialização do amor; são a minha razão de viver. Não tem coisa mais gratificante para mim do que ver a família toda reunida em um passeio ou em casa para um almoço no domingo. Também não há nada melhor do que deixar os avós cuidando das crianças e fazer um programinha a dois, afinal, somos um casal e temos que cuidar da nossa relação para não virarmos amigos (e confesso que esse é o meu maior medo). Mais uma vez relacionando o texto com a música e ainda falando dos passeios a dois, gostamos de ir ver o mar. Sempre que dá, fazemos isso. Quem puder, faça! Eu indico, pois renova a paz, renova o amor. A gente sai de lá leve e isso é muito bom.

A verdade é que amo essa mulher desde que a gente estudava juntos. Mas eu era praticamente invisível e não me enturmava; por isso ela nunca olhou para mim. Terminamos a escola e o acaso nos colocou na mesma sala da faculdade. Aquilo era a deixa de Deus e, dessa vez, não perdi a chance. Mudei meu estilo para um bem melhor, passei a me cuidar mais e acabamos nos aproximando. Começamos a namorar ainda na faculdade e de lá para cá passamos por várias crises e muitas brigas — gente, a muié é braba! —, mas fomos nos acertando. Quem disse que a vida é fácil? Mas o importante é que continuamos juntos e felizes, pois eu amo e não tem briga nenhuma que faça esse amor ir embora. Agora é só esperar o tempo passar. Espero que ele contribua para eu realizar esse último e mais longo sonho.

Agora, se vocês me dão licença, as crianças estão berrando lá no quarto e eu preciso ir antes que a mãe deles acorde e fique uma fera. Não está fácil para ninguém (risos). Adios!

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