As melhores frases se foram

“Evito de ter que pensar que as melhores frases se foram...”

(Zimbra – O Redator)

Letras. Palavras. Frases. Elas se vão. Elas se perdem no tempo. E as minhas já se foram há tanto tempo. Ainda ousam me chamar de escritor. Logo eu, um cara que nem consegue mais escrever. Isso aqui? Isso é só um rascunho... para mim mesmo; para me lembrar do fracasso que sou. Como pessoa, como profissional; no amor, no relacionamento com a minha família. Tudo que eu tinha eram as palavras e até elas me abandonaram. É como diz a música: “as melhores frases se foram”. E fizeram questão de nunca mais voltar...

E cá estou. De aspirante a best-seller à um escritorzinho de quinta que escreve dois textos por ano e que é lido por meia dúzia de pessoas quando posta esses textos no Facebook. Às vezes ganho um “amei”, às vezes um ou outro comentário. Passam 24 horas, o texto some do feed e já era. Agora só daqui um ano quando aparecer nas lembranças.

Mas sei que tenho culpa nisso. Nunca gostei de escrever sem querer. Talvez esses “textos incríveis” (palavras dessa minha meia dúzia de leitores, não minhas) só sejam tão incríveis por que não me forço a escrever. Só crio algo quando estou inspirado. Como diria outra música (Linhas Tortas, do Gabriel O Pensador): “meu texto é simples, sincero, é tinta que sai da medula”. Sem mimimi, sem encher linguiça. Textos verdadeiros, reais, sentimentais. Okay, às vezes não são reais, mas é aquela velha história: sempre tem algo do escritor no que ele escreve.

A verdade é que o sonho de ser um escritor famoso se foi há muitos anos. Um livro numa livraria ou num site equivale à uma agulha num palheiro. É a mesmíssima proporção. Quase impossível de se achar. Ganhar um prêmio literário é um sonho. Sonho esse que apenas 0,00001% dos escritores realizam. Até pensei em dizer que só os melhores vencem, mas eu estaria mentindo. Têm livros horríveis que ganham prêmios e vendem como água por que os autores são famosos. E têm livros excelentes que ninguém lê simplesmente porque ninguém sabe que existem. Livros de pessoas que não tem dinheiro para pagar alguns milhares de reais para lançar um livro numa editora grande e mais algumas centenas de reais para inscrevê-lo em prêmios literários, como o Jabuti, apenas para dar um exemplo.

E assim vou meio que desperdiçando o único dom que Deus me deu. “As melhores frases se foram”. Hoje elas aparecem como se estivessem criptografadas. Eu tento decifrá-las, mas esse não é um recurso que eu tenha desenvolvido. Quem sabe algum dia, quem sabe daqui a uns bons anos eu consiga. Mas não hoje. Não amanhã. E pelo que vejo, não tão breve.