O Sonho
Já faz tanto tempo. Tantos
anos se passaram desde que sentei pela última vez na frente do computador para
escrever. Exatamente o mesmo tempo que se passou desde que eu e ela terminamos
nosso namoro. Na verdade, eu terminei. Talvez seja por isso que eu não tenha me
perdoado até hoje; talvez por isso eu nunca a tenha esquecido; talvez seja por
que ela foi a minha primeira namorada, meu primeiro amor... Ou então essa é uma
das peças que a vida nos prega.
O
fato de eu nunca tê-la esquecido sempre dói em mim, principalmente pelo fato de
eu não ser para ela o que ela é para mim. Sim, ainda nos falamos. A mágoa já
passou há muito tempo, mas o sentimento dela por mim se reduziu a apenas uma
longínqua amizade daquelas muito mais de nome do que amizade de fato. Ela já
teve o quê? Três, quatro, cinco caras depois de mim? Enquanto eu tive duas
garotas depois dela, mas com uma diferença: eu não faço parte dos pensamentos
dela, enquanto ela vira e mexe está nos meus, inclusive, às vezes, nos meus
sonhos, razão pela qual estou escrevendo essas palavras, quebrando uma promessa
que fiz a mim mesmo.
Que
promessa? Bem, eu prometi para mim mesmo que pararia de escrever por tempo
indeterminado. A razão? Minha inspiração era ela. Eu nunca escrevi tanto como
quando estávamos juntos. Vários contos, poemas, histórias e mais histórias... E
então ela se foi. Levou junto o meu sorriso, minhas boas lembranças, minhas
inspirações. Só restaram tristeza, mágoa, início de depressão. Demorei muito
tempo para me reerguer novamente. Eu sabia que precisava tomar uma decisão,
então resolvi parar de escrever, já que eu estava como a personagem da música Monomania, que dá nome a um CD da
Clarice Falcão e dizia em um de seus versos:
Hoje
eu falei pra mim, jurei até
Que
essa não seria pra você e agora é
Tudo
o que eu escrevia era por ela. Para ela. Daí o tempo passou, a vida mudou, mas
uma coisa sempre foi a mesma: meu amor por ela. Não fantasio mais que nós dois
vamos ficar juntos, pois sei que isso nunca vai acontecer, mas o que eu sinto
por ela não diminuiu 1% sequer com o passar dos anos. Talvez tenha até
aumentado... Ela é meu ponto fraco, meu calcanhar de Aquiles.
Então,
se eu prometi nunca mais escrever, porque o estou fazendo? Você que está lendo
deve estar se perguntando, não é? Bom, simplesmente porque isso é mais forte
que eu. Está muito acima das minhas próprias forças.
Sonhei
com ela esta noite. Mas não foi só mais um dos inúmeros sonhos que tive com ela
em todos esses anos. Esse foi diferente, foi especial e, ao contrário do que
acontece normalmente, ele não desapareceu da minha mente quando eu acordei. Não
me pergunte como...
No
sonho, eu descia de um ônibus em uma parada qualquer da vida e ela estava lá,
como se estivesse me esperando. Pude ver seu olhar, seu cabelo liso, sua pele morena,
seu lindo sorriso e sua voz. Era a mesma voz que havia muito não ouvia e ela me
dizia:
—
Me abraça forte... Bem forte!
Parecia
tão real que eu senti como se realmente a estivesse abraçando. E foi um abraço
demorado; muito, muito longo e forte, como ela pediu e como fazíamos sempre que
nos víamos. E eu estava gostando tanto que não queria que acabasse nunca.
Queria parar o tempo ali. Congelá-lo. Quando nos desvencilhamos, demos um
selinho. Não foi um beijo daqueles de cinema. Foi um selinho, sem maldade, sem
teor sensual. Apenas um selinho entre duas pessoas que se gostam, mas que não
vão ficar juntos. O sonho era o reencontro pelo qual espero até hoje e que só
um milagre fará com que eu não o espere por toda a eternidade mesmo sabendo que
a possibilidade de acontecer é quase zero.
Ainda no sonho, nós passeamos por alguns lugares que eu nunca vi na vida; sempre nos abraçando. E foi assim até que eu acordei... E em plena madrugada senti que não importa o que aconteça, não importa onde ela vá e com quem ela esteja; não importa para onde eu vá ou com quem eu esteja, eu vou sempre estar ali com ela de uma forma inexplicável, de uma forma que só quem ama uma pessoa de forma tão profunda poderá saber do que estou falando.
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