Uma História Com Um Final Não Feliz


Sem data para não ficar no passado e para não se lembrar no futuro dessa triste história. História essa em que seu personagem principal, infelizmente, não teve um início, meio ou final tão feliz...

Estou falando de Adalberto. Afro-descendente, sem pai desde os dois anos de idade quando foi obrigado a fugir de casa com sua mãe. Essa que, por sua vez, era de um mundo obscuro: o das drogas e da bebida. Ele nunca citou o nome dela; deve ter seus motivos...

Aos sete anos de idade, Adalberto morava em uma favela de São Paulo e estava em seus primeiros anos na escola. O Bullying era seu parceiro há tempos. Isso é fato! Cor, classe social, “família”... Por isso tudo e mais um pouco ele era zoado na escola. Certa vez, as brincadeiras passaram dos limites e ele acabou reagindo: na hora do intervalo ele e seu agressor saíram rolando no chão. A galera, como já é de se esperar nessas ocasiões, formou uma rodinha em volta e começou a gritar: “Briga, briga, briga!”. Conclusão de tudo isso: ele foi expulso da escola. O diretor argumentou que ele tinha agredido o “moleque”, que saiu bem machucado da briga.

Morando em um barraco e com uma vida completamente infeliz, Adalberto queria mudar essa situação. Quando ele tinha seus treze anos, sua mãe o deixou. Mas ela não iria voltar nunca mais; havia morrido de cirrose em decorrência das altas doses de álcool que consumia diariamente.

E agora, o que seria dele? Para onde iria? O que faria da sua vida dali para frente? A única solução que ele encontrava era a de procurar a ajuda da avó, que morava na mesma cidade. Os dois foram separados pela mãe logo quando ele era pequeno. O motivo: ninguém sabia e jamais saberia! Ela nunca contou.

Sem ter para onde ir, achou um cantinho na casa da avó, que o recebeu com maior carinho. Ela morava num bairro nobre, onde ele não era mais zoado pelos vizinhos ou por qualquer um que passava na rua. Agora era uma nova vida, um novo começo.

Chegou a idade e o que era de se esperar, aconteceu. Adalberto arrumou uma namorada (muito bonita, por sinal) e, aos dezenove, principiava na faculdade cursando Medicina. Havia conseguido um bom emprego, ia bem nos estudos, mas algo mudou totalmente a trajetória da sua vida: um tiro nas costas durante um assalto enquanto ele voltava de uma festa com a namorada o deixou quase sem vida. Quinze dias na U.T.I., quando os médicos já não tinham mais esperança, ele abre o olho... seus batimentos cardíacos voltam ao normal e, como numa mágica, ele volta à vida. Porém, havia algo errado: suas pernas. Ele não sentia suas pernas, não conseguia movê-las. Estava paraplégico! Ficou muito abatido ao saber da notícia, mas a avó e a namorada (que eram sua família) deram aquela força e o reanimaram.

Com seus movimentos reduzidos à parte de cima do corpo, ele descobriu que tinha um dom: o dom da escrita. E se pôs a escrever. Escrevia sem parar: contos, crônicas, livros... Fazia daquilo o seu passatempo. A essa altura sua agora noiva já havia se mudado e, juntamente com a avó, faziam uma família feliz.

Mas, como eu disse no início, o final não é feliz e não tem data, nem idade para que a tragédia não seja lembrada no futuro.

À noite, quando todos dormiam, houve um vazamento no botijão de gás. O odor tomou conta da casa e invadiu o andar de cima, onde eles dormiam. O gás entrou nas suas narinas e matou todos asfixiados sem nenhuma chance de lutar para se salvar. Adalberto ainda acordou com o cheiro, já sufocado... Não conseguia falar, tentava gritar, mas a voz não saía. Nessa hora as pernas lhe fizeram muita falta. Foi uma morte ainda mais trágica que as outras duas, pois ele morreu agonizando. Sofreu até a hora em que não aguentou mais e seu pulmão encheu de gás. Trágico fim de uma família feliz.

Esse relato é para provar que nem todas as histórias têm um final feliz e que a vida não é um mar de rosas como queremos acreditar que ela é. Temos que encarar a realidade e sermos fortes, corajosos e perseverantes. Peguemos o exemplo de Adalberto, que não abaixou a cabeça em nenhum de seus obstáculos.


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